Conheça as vacinas contra a COVID-19

O dia 27 de dezembro de 2020 vai ficar marcado para sempre na história. O chamado Dia D foi o dia em que arrancou a vacinação com a COVID-19 nos Estados Unidos e na União Europeia. Em Portugal, a primeira vacina foi administrada no Porto, a António Sarmento, diretor do serviço de Infecciologia do Hospital de São João.

No entanto, apesar das constantes notícias e campanhas a incentivar a vacinação, a verdade é que continuam a existir muitas dúvidas sobre as mesmas, nomeadamente no que diz respeito ao modo de funcionamento, eficácia e efeitos adversos. O objetivo deste artigo é, portanto, esclarecer as dúvidas mais comuns e explicar as diferenças entre as vacinas que, neste momento, estão a ser administradas em Portugal.

As vacinas contra a COVID-19

A Comissão Europeia fez um acordo com seis empresas farmacêuticas para a aquisição de vacinas para o conjunto de estados membros. Portugal, como um dos países membros da União Europeia, beneficia desta mesma negociação na medida em que recebe as doses necessárias sem necessidade de as contratar exclusivamente para os habitantes do país.

Apesar do acordo ter sido feito com seis farmacêuticas, a utilização das vacinas requer a aprovação das mesmas. Para já, apenas três destas seis foram aprovadas pela Agência Europeia do Medicamento (AEM) e são estas que se encontram a ser administradas em Portugal: BioNTech/Pfizer, Moderna e AstraZeneca. Esta aprovação pela AEM garante que as vacinas são de qualidade, seguras e eficazes, independentemente do modo de funcionamento das mesmas.

Ainda assim, existem obviamente diferenças entre estas três fórmulas, mas são essencialmente referentes à forma como o corpo adquire imunidade. A da AstraZeneca funciona de forma tradicional, ou seja, são injetadas componentes do vírus e o sistema imunológico reconhece-as como entidades estranhas, desenvolvendo defesas contra elas. É o chamado adenovírus alterado. As outras duas, Pfizer e Moderna, são vacinas de mRNA e injetam informação que permite que o corpo crie uma componente do vírus, que por sua vez vai levar o sistema imunológico a desenvolver defesas. Neste momento, não existe informação suficiente que permita considerar que uma vacina é melhor que outra.

BioNTech/Pfizer

A vacina da Pfizer foi a primeira a ser aprovada. Garante uma eficácia de 95% na redução de casos sintomáticos e em indivíduos com risco de sintomas graves, como asmáticos, doentes pulmonares crónicos, diabéticos, hipertensos ou obesos. É eficaz a partir dos 16 anos e inclusive nos idosos. Já nas grávidas a utilização deve ser ponderada, tendo em conta os riscos e benefícios. É tomada em duas doses com um intervalo de 21 dias entre a primeira e a segunda inoculação.

Esta vacina utiliza a tecnologia de RNA Mensageiro. O RNA é um ácido ribonucleico (mRNA, em inglês), uma enzima que transporta o DNA do vírus da doença, neste caso do SARS-CoV-2. Através desta informação genética o organismo humano passa a reconhecer o novo coronavírus e avisa o sistema imunológico que reage e produz defesas contra ele. Por outras palavras, a vacina fornece ao organismo uma espécie de código genético que induz as células a produzir proteínas virais – anticorpos. É desencadeada uma resposta imunológica, que será acionada quando/e se o corpo entrar em contacto com o vírus.

Em termos de conservação, a vacina da Pfizer necessita de ser armazenada a temperaturas muito baixas, entre 70 a 75 graus negativos. Fora destas condições, quando guardada num frigorífico comum, apenas aguenta cinco dias. Quanto ao preço, em média tem um valor de 12 euros por dose.

Moderna

A vacina da Moderna funciona de forma similar à Pfizer, ou seja, com a técnica do ARN mensageiro. A eficácia é de 94% e deve ser administrada a maiores de 18 anos em duas doses separadas por um intervalo de 28 dias.

Quanto à conservação, a vacina da Moderna tem a vantagem de poder ser armazenada em frigoríficos idênticos aos das nossas cozinhas, entre dois a oito graus positivos, durante 30 dias. Caso seja guardada no congelador a 20 graus negativos, é possível conservá-la por seis meses. O preço é de cerca de 15 euros por dose.

AstraZeneca

A vacina da AstraZeneca foi a terceira a ser aprovada e possui uma eficácia de cerca de 70%. De acordo com a DGS, pode ser usada em maiores de 18 anos, mas não se recomenda a utilização em maiores de 65 anos, pelo menos enquanto não houver mais dados que atestem a segurança e eficácia junto destas faixas etárias.

Esta é uma vacina vetorial, desenvolvida com a tecnologia de vetor não replicante de adenovírus de chimpanzés, inofensivo para seres humanos. Na prática é uma versão mais fraca do vírus da gripe comum em chimpanzés e contém igualmente proteínas contidas no material genético do vírus SARS-Cov-2. Após a vacinação, este adenovírus penetra em algumas células originando a produção da proteína Spike. Como resultado, o sistema imunitário produz anticorpos e células T que irão atuar na proteção contra a infeção pelo SARS-CoV-2.

A grande novidade da vacina da AstraZeneca é que, segundo os investigadores, pode conservar-se no frigorífico em temperaturas entre os dois e os oito graus durante um período de seis meses, podendo ser mais fácil de transportar, distribuir e conservar em qualquer parte do mundo. Também é administrada em duas doses, de quatro a 12 semanas de intervalo. Em termos de preço também é mais barata: cerca de 2,5 euros por dose.

As vacinas têm efeitos secundários?

Tal como qualquer outro medicamento, também a vacina contra a COVID-19 pode ter efeitos secundários. As reações adversas reportadas por alguns participantes nos ensaios clínicos têm sido ligeiras e passageiras e incluem, entre outros:

  • dor no local de injeção;
  • fadiga;
  • dor de cabeça;
  • dor muscular;
  • calafrio;
  • dores articulares;
  • febre.

Posso escolher qual vacina tomar?

Não, essa gestão é da responsabilidade das autoridades da saúde. A única escolha possível é se quer ou não ser vacinado. De qualquer forma, a recomendação é que todas as pessoas convocadas aceitem ser vacinadas. Porquê? Porque só assim será possível atingir a imunidade de grupo e quebrar as cadeias de transmissão do novo coronavírus.

 

Foto de capa de Hakan Nural.